O plano social do PMDB, que deve orientar as políticas do novo governo Michel Temer, traz avanços na educação, mas a proposta do partido de acabar com a vinculação de receitas – ou seja, a obrigatoriedade de governantes gastarem um determinado percentual do valor arrecadado em saúde e educação – pode fazer com que conquistas sociais sejam perdidas. O professor também vai ser afetado, como sempre em relação ao seu salário, pois diminuir investimento em educação implica desvalorizar ainda mais as remunerações pagas aos docentes.A opinião é do especialista Mozart Neves Ramos, diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna e que chegou a ser cotado para a equipe de Michel Temer – o Ministério da Educação, unido ao de Cultura, acabou sendo entregue ao então deputado federal Mendonça Filho (DEM-PE).Ramos acha também que a junção das pastas pode fazer a cultura acabar "engolida" pelos enormes desafios prioritários do setor educacional. Por exemplo, os programas vinculados ao ensino superior. O Fies (programa de financiamento estudantil) perdeu praticamente metade das vagas que vinham sendo oferecidas historicamente, de 730 mil para 315 mil, por conta dos cortes na economia. O Brasil tem no ensino superior apenas 17% dos jovens de 18 a 24 anos, e a meta do Plano Nacional de Educação prevê dobrar esse percentual. O Fies era um importante instrumento para isso ser alcançado. A economia está impactando o cumprimento de uma meta estratégica para o país.Mas as crianças e jovens não têm culpa, e a educação é o grande instrumento para lhes deixarmos um legado, para gerar fortalecimento democrático. Temos que blindá-la o máximo possível, criar uma agenda positiva, que preserve a escola e não leve ao desânimo dos educadores, dos jovens que querem ser professores. Não podemos negar os avanços no financiamento da educação – o gasto per capita por aluno cresceu de R$ 2,5 mil por aluno/ano para R$ 5,5 mil nos últimos 15 anos. (Mas) agora a gente vai passar por um retrocesso.
Ao expandir alguns programas, que são importantes, talvez a gente não tenha medido o quanto conseguiria mantê-los e fazê-los crescer – seja Fies, Pronatec, Prouni. A universidade pública também estava na expectativa de crescer, mas agora a gente mal está conseguindo concluir os campi e universidades (em construção) porque tivemos de fechar o cofre.
Nesse campo, me parece que sim. Cerca de 70% dos jovens que terminam o ensino médio em geral vão para o mundo do trabalho, sem estarem preparados. Em países desenvolvidos, a maioria dos jovens passa pela formação profissional. O jovem precisa ter a opção de ir para a universidade ou para o mundo do trabalho, senão fica naquela faixa nem-nem (que não trabalha nem estuda).
(Mas) um ponto desse documento do PMDB que me preocupa é acabar com (a obrigatoriedade de destinar) 25% (da arrecadação de Estados e municípios) para a educação (argumento que consta do plano Ponte para o Futuro, também do PMDB). Na minha opinião, isso é um absurdo. Temos um país muito desigual. A visão de médio e longo prazo está muito longe da maioria dos governantes deste país. Se eles tiverem essa flexibilidade toda, olharão muito mais para o que vai dar voto do para a reforma de escola.
O que precisamos agora avaliar é o quanto isso foi colocado (no currículo escolar), se há um bom equilíbrio ou se (esses temas) foram postos só tangencialmente para inglês ver. Outro ponto é o desenvolvimento integral, que não estava antes. Precisamos saber o quanto foi colocado, se de forma clara, dentro de um currículo para o século 21 – que precisa incluir também novas habilidades de trabalho de equipe, colaborativo, qualificação de informação. São parâmetros competitivos muito importantes. Então a sua formação na escola tem que passar por essa cultura, com abordagens híbridas de aprendizado – aulas tradicionais e aulas colaborativas, em que alunos pesquisem e desenvolvam pensamento crítico, criatividade. Precisamos ver então se a Base olha para o século 21 ou apenas para o retrovisor. Fonte: BBC Brasil em São Paulo
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