O terminal de ônibus Parque Dom Pedro II, no centro da capital paulista, estava lotado às 18h dessa terça-feira (26). A cena se repete diariamente, mas dessa vez tinha algo destoante. No meio da fila de gente que se amontoava na plataforma, integrantes do Movimento Passe Livre (MPL) distribuíam panfletos e faziam um convite.
No início era recebido com certa desconfiança, mas não demorou muito para que todas as vagas do que era ofertado fossem preenchidas.
Dois ônibus sem tarifa, sem catraca e sem lotação, fazendo a rota até Cidade Tiradentes, no extremo da zona leste paulistana. Cada um dos veículos, com 25 lugares cada, tinha máscaras, álcool e água disponíveis.
A ação marcou o Dia Nacional de Luta pela Tarifa Zero, celebrado em 26 de outubro em memória à revolta popular que aconteceu nessa data em 2004 em Florianópolis (SC). Na ocasião, a mobilização barrou o aumento da tarifa do transporte e conquistou o Passe Livre Estudantil.
"Queremos mostrar que a tarifa zero é possível", afirma Rosa Pereira*, do MPL-SP, ao elencar municípios onde isso já é uma realidade, como Maricá (RJ) e Formosa (GO) no Brasil, Dunquerque na França e Hasselt na Bélgica.
Busão tarifa zero de volta à Cidade Tiradentes: 30 anos depois
O ônibus gratuito balançava ao percorrer o mesmo trajeto da linha 4313-10, mas todo mundo estava confortavelmente sentado, quando um dos militantes do MPL fez uma fala agradecendo a confiança e explicando a intenção da iniciativa.
"Essa ação aqui é literalmente 'nóis por nóis'. É muito importante para a gente estar fazendo isso aqui hoje", disse.
Contou ser morador da Cidade Tiradentes e que era "molequinho", mas que lembra de ter andado no circular gratuito que foi implementado na região nos anos 1990 - um dos motivos pelos quais o movimento escolheu esse destino para a ação.
A linha foi um projeto piloto criado por Lúcio Gregori quando foi secretário de Transportes de 1990 a 1992, durante a gestão de Luiza Erundina na Prefeitura de São Paulo. Vários passageiros do busão tarifa zero do MPL seguiam com essa memória viva.
Ricardo tem 46 anos e vive na Cidade Tiradentes há 35, também circulou no ônibus gratuito dos anos 1990. Ele, assim como todas as pessoas que sentavam ao seu redor e participavam da conversa, passa quatro horas por dia útil dentro do transporte coletivo.
Atualmente em São Paulo, o valor da passagem comum de Metrô, CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e ônibus é de R$4,40. Dênis, que viajava ao lado de Ricardo, disse ter seis filhos, ser trabalhador informal e gastar R$ 200 mensais para se locomover pela cidade.
Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2021/10/27/tarifa-zero-ativistas-fazem-linha-de-onibus-com-passe-livre-do-centro-a-extrema-leste-em-sp?bdf=t
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